Por Rodrigo Koerich
Para que se possa elaborar um projeto estrutural de modo adequado, seja ele pequeno, médio ou grande, o engenheiro de estruturas precisa dispor de um conjunto de informações preliminares antes de iniciar seu trabalho, sendo que algumas dessas informações interferem inclusive na própria definição do valor a ser cobrado pelo projeto. Nesse sentido, apresentamos abaixo uma lista das principais informações, com o objetivo de orientar um profissional que está começando nesse mercado, tanto para montar uma proposta para elaboração do projeto, como também na condução do projeto junto ao contratante.
1. PROJETO ARQUITETÔNICO DA EDIFICAÇÃO
Obviamente, é necessário que tenhamos o projeto arquitetônico definido para elaborar os complementares. Todavia, muitas vezes o projetista da estrutura recebe somente o projeto já aprovado na prefeitura, que normalmente sofreu um longo e burocrático processo até sua aprovação. Por conta disso, o arquiteto e o proprietário dificilmente aceitam realizar mudanças na arquitetura já aprovada para melhor adaptação ao projeto estrutural. Embora essa seja uma prática corrente, não é a melhor forma de trabalho. Quanto mais cedo o projetista da estrutura tiver acesso ao arquitetônico, melhor. Quando o arquitetônico ainda é apenas um estudo preliminar ou um projeto básico, já é possível fazer um pré-lançamento da estrutura e fazer pequenos ajustes na arquitetura, mas que podem fazer grande diferença para a solução estrutural, tanto no aspecto de desempenho quanto em economia. Quanto mais oportunidade de ajustar a arquitetura, melhor será a estrutura e a obra. Procure então convencer seu cliente a repassar o projeto arquitetônico o mais breve possível.
2. LAUDO DE SONDAGEM DO TERRENO
Infelizmente, existe no Brasil uma cultura de que as obras de pequeno porte não precisam desse tipo de laudo. O laudo de sondagem do terreno não pode ser visto como custo extra porque, além de representar um aspecto de segurança para a obra, pode representar também uma economia, visto que reduz a incerteza no dimensionamento. Contratantes de grandes obras sabem muito bem disso e não costumam criar empecilhos para esse tipo de documento. Se o cliente não quiser realizar a sondagem, mostre por meio de casos reais que o valor do ensaio se paga através da economia, além de evitar o risco que uma obra corre quando não há a sondagem prévia do terreno.
3. LEVANTAMENTO TOPOGRÁFICO
Não é exigido em todas as obras, mas quando o terreno é acidentado, é um documento fundamental, pois é utilizado para definir estruturas de contenção, quando necessárias, além das cotas das fundações. Quando você não tem informações sobre o terreno, pode solicitar que o contratante lhe envie fotos para você tomar essa decisão se deve ou não dispor do levantamento topográfico.
4. OBRAS ESPECIAIS
Quando as obras são especiais – o caso de barragens, viadutos, pontes, usinas, estações de tratamento – são ainda necessários perfis geológicos, relatórios hidrológicos ou até informações sismológicas. Verifique as exigências antes de iniciar o projeto.
5. AVALIAR AS CARACTERÍSTICAS DAS EDIFICAÇÕES VIZINHAS
A maioria das obras construídas em área urbana já tem uma obra ao lado ou certamente ainda vai ter. Quando existem construções adjacentes, o profissional precisa conhecer claramente as condições de projeto e construção dessas obras, antes de começar a elaborar seu projeto. Conhecer essas informações é primordial especialmente quando a obra nova envolve escavações, que podem modificar o estado de equilíbrio das fundações da obra vizinha e provocar danos nessas edificações. Lembre-se que, além do prejuízo físico, existe também um risco à segurança das pessoas que executam a obra ou habitam a edificação vizinha. Para evitar essa situação, recomenda-se estudar os projetos executivos das obras adjacentes bem como fazer uma inspeção prévia para avaliar patologias já existentes.
6. CARACTERIZAÇÃO DO MACRO AMBIENTE DA OBRA
Para desenvolver o projeto de acordo com a norma NBR 6118, o engenheiro precisa definir qual é a classe de agressividade ambiental da construção. Esse parâmetro pretende avaliar o risco predominante de deterioração da estrutura, levando em conta aspectos ambientais e geográficos. Para isso, você precisará definir se a obra será erguida em um ambiente considerado rural, urbano, industrial ou marinho. Esses diferentes macro-ambientes influenciam na definição de outros parâmetros de projeto que interferem na durabilidade da estrutura ao longo dos anos, e por isso é fundamental para criar condições em que a estrutura se mantenha estável e segura, sem patologias, dentro pelo menos dos próximos 50 anos. Estude bem as condições ambientais para definir adequadamente a classe de agressividade de acordo com a NBR 6118
7. PLANEJAMENTO PREVISTO PARA EXECUÇÃO DA ESTRUTURA
Em termos de desenvolvimento da solução do projeto estrutural há uma enorme diferença se a obra tem uma laje concretada a cada 28 dias ou a cada 7 dias, pois nos dois casos há uma grande diferença na capacidade que as lajes têm em resistir aos carregamentos dos pavimentos superiores, obrigando que haja um sistema de escoramentos suficiente para resistir aos esforços conjuntos da obra naquela fase de execução. De acordo com a norma NBR 14931, deve ser elaborado um plano de execução da estrutura e um projeto do sistema de formas e escoramentos, com definições sobre o processo de cura de concreto e o prazo para a retirada das formas e escoramentos. Quando o projetista não conhece esse plano de execução, faz o projeto estrutural sem levar em conta essas informações e não tem como garantir que o projeto cumpra os requisitos necessários durante a fase de execução, comprometendo a segurança e a durabilidade. Assim, antes de iniciar o projeto você deve solicitar ao contratante esse plano de execução ou, caso não exista uma documento pronto, estabelecer em reunião com a participação do contratante e do responsável pela execução algumas diretrizes e responsabilidades para cumprimento dos requisitos dessa norma.
8. PRAZO DESEJADO PARA INÍCIO DA OBRA
Quanto maior o prazo para elaboração do projeto estrutural, melhor e mais econômica é a solução. Não há dúvidas sobre isso. Quando os contratantes não fornecem um prazo adequado para o projeto, o projetista tem menos tempo para avaliar as diversas alternativas possíveis e acaba adotando a primeira solução viável, que dificilmente seria a mais econômica e muitas vezes também poderá não ser a mais funcional. Procure deixar isso muito claro ao cliente com exemplos de projetos em que você teve tempo adequado para trabalhar.
9. PREFERÊNCIAS DO CLIENTE QUANTO A SOLUÇÃO
Em alguns casos, o cliente tem interesse em optar por um tipo de solução técnica em detrimento de outra. Há ainda circunstâncias em que o contratante prefere evitar uma determinada solução devido a uma experiência ruim em outro projeto ou opta por uma solução com apelo mais comercial que tenha grande impacto no momento da venda do imóvel, como elementos estruturais aparentes e flexibilidade de layout. Procure conhecer as expectativas do cliente quanto às soluções a serem adotadas antes mesmo de iniciar seu projeto.
Todos esses aspectos influenciam na qualidade do projeto que será executado e também no prazo que vai conseguir executar. Com essas informações de antemão é muito mais fácil tomar as decisões, já que há menos risco na hora de fazer a proposta e a própria elaboração do projeto. Um projeto estrutural bem feito deve levar em conta todas essas questões para minimizar os possíveis problemas que o projetista pode encontrar ao longo do caminho, além de ter bem definido alguns pré-requisitos para atuar com projetos estruturais.
Fonte: www.maisengenharia.altoqi.com.br