BIM e as universidades

Muito se tem falado e escrito sobre a Modelagem da Informação da Construção ou BIM (Building Information Modeling), e não sem razão. O BIM representa um enorme salto para a Construção Civil no uso da Tecnologia da Informação, permitindo que recupere décadas de atraso nesse campo.

Tecnologias e processos ligados ao BIM permitem o registro de todas as informações de uma edificação, desde a concepção até a demolição, e serve a todos os participantes e disciplinas do empreendimento. Toda essa informação, incluindo a geometria 3D e especificações dos componentes, é armazenada num modelo digital parametrizado. A disponibilidade de informação integrada e consistente facilita e fomenta o uso de aplicativos de simulação e análise, a colaboração e o uso de novas formas de gestão do empreendimento, como o IPD (Integrated Project Delivery).

O BIM pressupõe a criação colaborativa de um modelo digital do edifício, em que cada profissional agrega ao modelo as informações específicas de sua disciplina. As ferramentas BIM permitem a automatização de tarefas como documentação e detecção de interferências, mas a grande contribuição é o fomento ao projeto integrado, em que os aportes de cada profissional surgem com muito mais antecedência que no processo tradicional.

Com a recuperação econômica da Construção no Brasil, o BIM é visto como uma tecnologia estratégica para o crescimento sustentado do setor, já que a melhora no planejamento e no projeto reduz erros, prazos e desperdícios; amplia a capacidade dos projetistas e otimiza o trabalho da mão de obra no canteiro – todos recursos escassos face à demanda observada.

Entretanto, para que um empreendimento possa se beneficiar do BIM, é necessário que disponha de mão de obra, especialmente a de nível superior, devidamente educada sobre os novos conceitos e tecnologias que representa. Para isso, a experiência profissional adquirida no próprio mercado seria de grande valia, porém ainda são poucos os escritórios e construtoras que adotaram o BIM como ferramenta de rotina. Dessa forma, o papel da universidade na formação de recursos humanos devidamente familiarizados com os novos paradigmas que o BIM pressupõe é essencial e urgente.

Experiências internacionais

Existem hoje importantes experiências de utilização da Modelagem da Informação da Construção no ensino de Arquitetura e de Engenharia Civil, especialmente em países onde o BIM está mais difundido.

Em 2008, ao relatar sua experiência com o ensino de BIM na California State University, o professor William Kymmell citou as possíveis limitações e obstáculos que um curso enfrentaria ao introduzir BIM no currículo. Esses problemas incluem dificuldades na utilização e aprendizagem das ferramentas BIM, incompreensão dos conceitos de BIM e as circunstâncias do ambiente acadêmico, entre os quais estão a falta de “espaço” no currículo, a rápida evolução das novas tecnologias, a escassez de professores especializados, a disponibilidade de recursos, entre outros.

No Brasil, a situação não é diferente. Aqui também a maioria dos professores dos cursos ligados à Construção é de uma geração desacostumada ao uso da TI – a mesma que dirige o mercado hoje – e tem dificuldade para absorver essas novas tecnologias, integrando-as ao currículo. Os programas dos cursos de arquitetura, engenharia e administração raramente se intersectam, e o relacionamento curricular entre gerenciamento da construção e projeto em geral praticamente não existe. Esta situação é inadequada para a formação profissional, mesmo para as práticas e tecnologias atuais e, muito pior, se forem considerados os pressupostos do BIM.

Algumas universidades internacionais que superaram esses obstáculos são hoje identificadas como líderes no ensino de BIM. Suas estratégias de introdução de BIM no currículo foram, essencialmente, de quatro tipos: disciplinas isoladas, colaboração intracursos, colaboração interdisciplinar e colaboração à distância.

A primeira estratégia, o oferecimento de disciplinas especializadas, é a menos recomendada, dada a própria essência colaborativa do BIM. No entanto, presta-se bem para o contato com ferramentas e compreensão dos conceitos mais técnicos do BIM. Pode se dar também através da incorporação de novos conteúdos em matérias já existentes.

A colaboração intracursos é um modelo de ensino em que se pode ensinar a criar, desenvolver e analisar modelos BIM ou até ensinar conceitos BIM mais subjetivos e simular a colaboração em um empreendimento real, mas sempre com estudantes de um mesmo curso, por exemplo, Engenharia Civil ou Arquitetura.

A partir de 2007, algumas universidades começam a ensinar BIM em Atelier de Projeto Integrado/Interdisciplinar em que alunos de Arquitetura, de Engenharia e de Gerenciamento da Construção trabalham colaborativamente no desenvolvimento de um projeto. Esse modelo de atelier é estruturado em torno do conceito de que os alunos formam uma equipe de projeto integrado. Neste modelo de ensino, denominado “Colaboração Interdisciplinar”, estudantes de dois ou mais cursos na mesma universidade aprendem conceitos BIM e simulam uma colaboração real, vivenciando situações práticas. Uma variação desta estratégia, especialmente adotada por universidades que possuem apenas o curso de Arquitetura ou o de Engenharia Civil, é a “Colaboração à Distância” entre estudantes de diferentes universidades. Nesse modelo, estudantes de duas ou mais universidades interagem e, como bônus, os alunos são expostos a situações e tecnologias típicas da colaboração à distância, cada vez mais importantes no cenário atual de globalização.

Considerando-se a abordagem internacional de introdução de BIM nos currículos, a predominância é introduzir BIM em atelier de projeto, mas há casos em que o atelier é integrado com outra matéria, geralmente para ensinar as ferramentas BIM. Outra abordagem é ensinar BIM em Representação Gráfica Digital, Gerenciamento, Tecnologia da Construção, Estágio e Trabalho Final de Graduação.

Multidisciplinaridade no ensino

O processo de implantação do BIM nas universidades revela que não se trata de apenas criar matérias no currículo. BIM tem potencial para ser introduzido ao longo de todo o programa. Os cursos deveriam explorar as aplicações BIM específicas de sua disciplina e depois investir na integração com outros cursos, mantendo os pontos fortes do ensino tradicional baseado em disciplinas e ao mesmo tempo tornando-se multidisciplinares. Assim, os princípios de BIM podem ser introduzidos primeiro em um curso e depois entre cursos.

Nos dois primeiros anos do currículo poderiam ser desenvolvidas as habilidades individuais de modelagem e análise do modelo, ou seja, ensinar ferramentas e aplicativos BIM em matérias de Representação Gráfica Digital. Os anos posteriores poderiam se concentrar mais no trabalho em equipe através do desenvolvimento de um projeto que integrasse duas ou mais matérias do curso, como por exemplo, Atelier de Projeto, Sistemas Estruturais, Instalações Prediais e Conforto. O último ano poderia se concentrar no trabalho em equipe multidisciplinar através do desenvolvimento de projetos de construção reais em Atelier de Projeto Integrado/Interdisciplinar e em colaboração com empresas locais.

As universidades brasileiras que pretendem introduzir BIM no ensino como exposto acima, provavelmente enfrentarão vários problemas como, por exemplo, a falta de professores treinados no BIM e a de referências sobre BIM em língua portuguesa. Outro problema são as ferramentas BIM que trabalham com bibliotecas que seguem padrões que às vezes não refletem a realidade regional onde são utilizados. Mas provavelmente, o maior deles será promover a integração entre as diversas áreas do currículo e encontrar cursos de outros departamentos, ou até mesmo de outras universidades que estejam dispostos a promover a integração e colaboração. Além disso, as universidades precisam do apoio da indústria e fornecedores para achar uma solução para as lacunas e carências profissionais em BIM, mas no Brasil ainda não existe contato organizado da indústria da Construção com as universidades.

Outra forma de introduzir essas mudanças é adequar os Planos Político-Pedagógicos das universidades a esta realidade, incluindo incentivos à promoção de modelos de colaboração e à integração de cursos.

Quanto a experiências brasileiras, sabe-se apenas da adoção de ferramentas BIM em alguns cursos de Arquitetura, e de disciplinas especializadas no tema, em nível de pós-graduação.

Na medida em que a indústria da construção civil tornar-se mais integrada, influenciará na educação de futuros profissionais, com currículos que refletirão a “união” c

Muito se tem falado e escrito sobre a Modelagem da Informação da Construção ou BIM (Building Information Modeling), e não sem razão. O BIM representa um enorme salto para a Construção Civil no uso da Tecnologia da Informação, permitindo que recupere décadas de atraso nesse campo.

Tecnologias e processos ligados ao BIM permitem o registro de todas as informações de uma edificação, desde a concepção até a demolição, e serve a todos os participantes e disciplinas do empreendimento. Toda essa informação, incluindo a geometria 3D e especificações dos componentes, é armazenada num modelo digital parametrizado. A disponibilidade de informação integrada e consistente facilita e fomenta o uso de aplicativos de simulação e análise, a colaboração e o uso de novas formas de gestão do empreendimento, como o IPD (Integrated Project Delivery).

O BIM pressupõe a criação colaborativa de um modelo digital do edifício, em que cada profissional agrega ao modelo as informações específicas de sua disciplina. As ferramentas BIM permitem a automatização de tarefas como documentação e detecção de interferências, mas a grande contribuição é o fomento ao projeto integrado, em que os aportes de cada profissional surgem com muito mais antecedência que no processo tradicional.

Com a recuperação econômica da Construção no Brasil, o BIM é visto como uma tecnologia estratégica para o crescimento sustentado do setor, já que a melhora no planejamento e no projeto reduz erros, prazos e desperdícios; amplia a capacidade dos projetistas e otimiza o trabalho da mão de obra no canteiro – todos recursos escassos face à demanda observada.

Entretanto, para que um empreendimento possa se beneficiar do BIM, é necessário que disponha de mão de obra, especialmente a de nível superior, devidamente educada sobre os novos conceitos e tecnologias que representa. Para isso, a experiência profissional adquirida no próprio mercado seria de grande valia, porém ainda são poucos os escritórios e construtoras que adotaram o BIM como ferramenta de rotina. Dessa forma, o papel da universidade na formação de recursos humanos devidamente familiarizados com os novos paradigmas que o BIM pressupõe é essencial e urgente.

Experiências internacionais

Existem hoje importantes experiências de utilização da Modelagem da Informação da Construção no ensino de Arquitetura e de Engenharia Civil, especialmente em países onde o BIM está mais difundido.

Em 2008, ao relatar sua experiência com o ensino de BIM na California State University, o professor William Kymmell citou as possíveis limitações e obstáculos que um curso enfrentaria ao introduzir BIM no currículo. Esses problemas incluem dificuldades na utilização e aprendizagem das ferramentas BIM, incompreensão dos conceitos de BIM e as circunstâncias do ambiente acadêmico, entre os quais estão a falta de “espaço” no currículo, a rápida evolução das novas tecnologias, a escassez de professores especializados, a disponibilidade de recursos, entre outros.

No Brasil, a situação não é diferente. Aqui também a maioria dos professores dos cursos ligados à Construção é de uma geração desacostumada ao uso da TI – a mesma que dirige o mercado hoje – e tem dificuldade para absorver essas novas tecnologias, integrando-as ao currículo. Os programas dos cursos de arquitetura, engenharia e administração raramente se intersectam, e o relacionamento curricular entre gerenciamento da construção e projeto em geral praticamente não existe. Esta situação é inadequada para a formação profissional, mesmo para as práticas e tecnologias atuais e, muito pior, se forem considerados os pressupostos do BIM.

Algumas universidades internacionais que superaram esses obstáculos são hoje identificadas como líderes no ensino de BIM. Suas estratégias de introdução de BIM no currículo foram, essencialmente, de quatro tipos: disciplinas isoladas, colaboração intracursos, colaboração interdisciplinar e colaboração à distância.

A primeira estratégia, o oferecimento de disciplinas especializadas, é a menos recomendada, dada a própria essência colaborativa do BIM. No entanto, presta-se bem para o contato com ferramentas e compreensão dos conceitos mais técnicos do BIM. Pode se dar também através da incorporação de novos conteúdos em matérias já existentes.

A colaboração intracursos é um modelo de ensino em que se pode ensinar a criar, desenvolver e analisar modelos BIM ou até ensinar conceitos BIM mais subjetivos e simular a colaboração em um empreendimento real, mas sempre com estudantes de um mesmo curso, por exemplo, Engenharia Civil ou Arquitetura.

A partir de 2007, algumas universidades começam a ensinar BIM em Atelier de Projeto Integrado/Interdisciplinar em que alunos de Arquitetura, de Engenharia e de Gerenciamento da Construção trabalham colaborativamente no desenvolvimento de um projeto. Esse modelo de atelier é estruturado em torno do conceito de que os alunos formam uma equipe de projeto integrado. Neste modelo de ensino, denominado “Colaboração Interdisciplinar”, estudantes de dois ou mais cursos na mesma universidade aprendem conceitos BIM e simulam uma colaboração real, vivenciando situações práticas. Uma variação desta estratégia, especialmente adotada por universidades que possuem apenas o curso de Arquitetura ou o de Engenharia Civil, é a “Colaboração à Distância” entre estudantes de diferentes universidades. Nesse modelo, estudantes de duas ou mais universidades interagem e, como bônus, os alunos são expostos a situações e tecnologias típicas da colaboração à distância, cada vez mais importantes no cenário atual de globalização.

Considerando-se a abordagem internacional de introdução de BIM nos currículos, a predominância é introduzir BIM em atelier de projeto, mas há casos em que o atelier é integrado com outra matéria, geralmente para ensinar as ferramentas BIM. Outra abordagem é ensinar BIM em Representação Gráfica Digital, Gerenciamento, Tecnologia da Construção, Estágio e Trabalho Final de Graduação.

Multidisciplinaridade no ensino

O processo de implantação do BIM nas universidades revela que não se trata de apenas criar matérias no currículo. BIM tem potencial para ser introduzido ao longo de todo o programa. Os cursos deveriam explorar as aplicações BIM específicas de sua disciplina e depois investir na integração com outros cursos, mantendo os pontos fortes do ensino tradicional baseado em disciplinas e ao mesmo tempo tornando-se multidisciplinares. Assim, os princípios de BIM podem ser introduzidos primeiro em um curso e depois entre cursos.

Nos dois primeiros anos do currículo poderiam ser desenvolvidas as habilidades individuais de modelagem e análise do modelo, ou seja, ensinar ferramentas e aplicativos BIM em matérias de Representação Gráfica Digital. Os anos posteriores poderiam se concentrar mais no trabalho em equipe através do desenvolvimento de um projeto que integrasse duas ou mais matérias do curso, como por exemplo, Atelier de Projeto, Sistemas Estruturais, Instalações Prediais e Conforto. O último ano poderia se concentrar no trabalho em equipe multidisciplinar através do desenvolvimento de projetos de construção reais em Atelier de Projeto Integrado/Interdisciplinar e em colaboração com empresas locais.

As universidades brasileiras que pretendem introduzir BIM no ensino como exposto acima, provavelmente enfrentarão vários problemas como, por exemplo, a falta de professores treinados no BIM e a de referências sobre BIM em língua portuguesa. Outro problema são as ferramentas BIM que trabalham com bibliotecas que seguem padrões que às vezes não refletem a realidade regional onde são utilizados. Mas provavelmente, o maior deles será promover a integração entre as diversas áreas do currículo e encontrar cursos de outros departamentos, ou até mesmo de outras universidades que estejam dispostos a promover a integração e colaboração. Além disso, as universidades precisam do apoio da indústria e fornecedores para achar uma solução para as lacunas e carências profissionais em BIM, mas no Brasil ainda não existe contato organizado da indústria da Construção com as universidades.

Outra forma de introduzir essas mudanças é adequar os Planos Político-Pedagógicos das universidades a esta realidade, incluindo incentivos à promoção de modelos de colaboração e à integração de cursos.

Quanto a experiências brasileiras, sabe-se apenas da adoção de ferramentas BIM em alguns cursos de Arquitetura, e de disciplinas especializadas no tema, em nível de pós-graduação.

Na medida em que a indústria da construção civil tornar-se mais integrada, influenciará na educação de futuros profissionais, com currículos que refletirão a “união” cada vez maior entre projeto e construção.

Eduardo Toledo Santos, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Maria Bernardete Barison, professora da Universidade Estadual de Londrina

Fonte : Revista Construção e Mercado ( PINI )

Link : http://construcaomercado17.pini.com.br/negocios-incorporacao-construcao/115/o-desafio-para-as-universidades-formacao-de-recursos-humanos-282479-1.aspx

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